O Espiritismo Consolador

                                                                                                                                         Décio Luís Schons (*)

Cento e cinquenta e oito anos atrás, num mês de abril como o que estamos vivendo, o mundo recebia O Evangelho Segundo o Espiritismo, a terceira obra do Pentateuco Kardequiano, em sequência à publicação de O Livro dos Espíritos, em 1857, e de O Livro dos Médiuns, em 1861. Era um passo importante na trajetória do Codificador e na afirmação da Doutrina Espírita nascente como detentora de uma sólida base filosófica, ética e moral, amparada nos ensinamentos do Mestre Jesus Cristo.

Logo no prefácio do livro, O Espírito de Verdade, principal inspirador e orientador dos trabalhos de Kardec, dirige-nos comovedor chamamento ao trabalho e ao progresso espiritual: “Nós vos convidamos, a vós homens, para o divino concerto.” Era mais uma edição desse convite, que vem sendo renovado, através dos tempos, aos trabalhadores de boa vontade, para que transformemos nosso planeta em um mundo de menos atraso e menos sofrimento, mais progresso e mais alegrias.

Permitir-me-ei transcrever aqui o primeiro parágrafo da Introdução à obra, levado pela importância que essa passagem assume na motivação do estudo do Espiritismo: “Podem dividir-se em cinco partes as matérias contidas nos Evangelhos: os atos comuns da vida do Cristo; os milagres; as predições; as palavras que foram tomadas pela Igreja para fundamento de seus dogmas; e o ensino moral. As quatro primeiras têm sido objeto de controvérsias; a última, porém, conservou-se constantemente inatacável. Diante desse código divino, a própria incredulidade se curva. É terreno onde todos os cultos podem reunir-se, estandarte sob o qual podem todos colocar-se, quaisquer que sejam suas crenças, porquanto jamais ele constituiu matéria das disputas religiosas, que sempre e por toda a parte se originaram das questões dogmáticas. Aliás, se o discutissem, nele teriam as seitas encontrado sua própria condenação, visto que, na maioria, elas se agarram mais à parte mística do que à parte moral, que exige de cada um a reforma de si mesmo. Para os homens, em particular, constitui aquele código uma regra de proceder que abrange todas as circunstâncias da vida pública, o princípio básico de todas as relações sociais que se fundam na mais rigorosa justiça. É, finalmente e acima de tudo, o roteiro infalível para a felicidade vindoura, o levantamento de uma ponta do véu que nos oculta a vida futura. Essa parte é a que será objeto exclusivo desta obra.

Ao delimitar claramente os limites da Doutrina no campo moral, afirmava o Codificador, de forma insofismável, a existência do aspecto religioso do Espiritismo, que vinha a se somar aos aspectos científico e filosófico já estabelecidos com clareza nas obras anteriores. Longe, porém, de enunciar promessas de salvação mediante a prática da fé cega ou de pregar o conformismo fatalista diante das circunstâncias da vida, o Codificador reafirma com clareza uma grande esperança, ou melhor, uma grande certeza: a de que a felicidade verdadeira e o progresso espiritual, da qual ela é decorrente, virão para cada um de nós a partir do nosso sucesso no esforço individual de autorreforma. Cada ser humano é responsável pelo próprio despertar para as realidades da Vida Maior e pelo seu necessário progresso espiritual. Ninguém poderá fazer o trabalho por mim, o que não me impede de receber o auxílio e a orientação dos Amigos encarnados e desencarnados.

Poderia ser antecipado já, nessas palavras de imorredouro significado, o sentido da frase atribuída a Teilhard de Chardin cerca de um século mais tarde: “Não somos seres humanos vivendo uma experiencia espiritual; somos seres espirituais vivendo uma experiência humana.”

No Brasil, a primeira agremiação espírita foi fundada no Rio de Janeiro, em 1873. Um de seus fundadores foi Joaquim Carlos Travassos, médico e linguista que traduziu o Evangelho Segundo o Espiritismo para o português em 1876. Outro tradutor muito conhecido das obras da Codificação, já no século XX, foi Luís Olímpio Guillon Ribeiro, também presidente da Federação Espírita Brasileira por cerca de quinze anos.

O Evangelho Segundo o Espiritismo é de longe a obra mais vendida e mais consultada do Pentateuco Espírita. Fonte de alívio e inspiração, é livro de cabeceira de quantos queiram manter a prática diária da oração, das boas vibrações e do exercício da caridade, sejam os leitores espíritas praticantes, sejam eles simplesmente simpatizantes da Doutrina Espírita.

Em seu capítulo VI, intitulado “O Cristo Consolador”, o Evangelho Segundo o Espiritismo identifica inequivocamente o Espiritismo como sendo o Consolador prometido por Jesus Cristo na seguinte passagem do Novo Testamento: “Se me amais, guardai os meus mandamentos; e Eu rogarei a meu Pai e Ele vos enviará outro Consolador, a fim de que fique eternamente convosco: O Espírito de Verdade, que o mundo não pode receber, porque o não vê e absolutamente o não conhece. Mas quanto a vós, conhecê-lo-eis, porque ficará convosco e estará em vós. Porém, o Consolador, que é o Santo Espírito, que meu Pai enviará em meu nome, vos ensinará todas as coisas e vos fará recordar tudo o que vos tenho dito.” (João, 14:15 a 17 e 26.)

Na sequência à citação evangélica, Allan Kardec esclarece a sua convicção na justeza da identificação proposta: “O Espiritismo mostra a causa dos sofrimentos nas existências anteriores e na destinação da Terra, onde o homem expia o seu passado. Mostra o objetivo dos sofrimentos, apontando-os como crises salutares que produzem a cura e como meio de depuração que garante a felicidade nas existências futuras... Assim, o Espiritismo realiza o que Jesus disse do Consolador Prometido: conhecimento das coisas, fazendo com que o homem saiba de onde vem, para onde vai e por que está na Terra; atrai para os verdadeiros princípios da Lei de Deus e consola pela fé e pela esperança.

Que fique, portanto, registrada, neste mês de abril, ao insigne Professor Hippolyte Léon Denizard Rivail, cognominado Allan Kardec, a nossa gratidão por todo o corpo doutrinário legado às pessoas de boa vontade, em especial pela obra objeto destas simples reflexões (O Evangelho Segundo o Espiritismo) e que nos auxilia sobremaneira na busca de um sentido para esta nossa existência no planeta Terra.

(*) O autor é General de Exército na Reserva

Comentários

  1. Importante destacar a magnitude dessa obra consoladora. Nós, espiritas, devemos ter o Evangelho Segundo o Espiritismo como nosso livro de cabeceira e de leitura diária.

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    1. Considero oCapitulo XXIV “Não ponhais a candeia debaixo do alqueire “, um dos mais esclarecedores para o entendimento da diversidade da Vida.

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  2. Deus criou todas as crenças, porém agora resolveu criar apenas uma, Denominada Dinamização. O Espiritismo foi bastante simplificado.

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