INTELIGÊNCIA ESPIRITUAL

                                                                                                                                                  Décio Luís Schons (*)    

Pessoas comuns que somos, costumamos dividir nossa atuação no mundo entre a luta pela sobrevivência física e a busca pelo bem-estar emocional. Somente em determinados momentos, movidos por impulso interno, ensaiamos a meditação sobre a vertente espiritual do nosso destino. Em dias específicos da semana, é comum que as pessoas busquem a conexão com o poder divino, comparecendo a igrejas, templos, mesquitas, sinagogas, centros espíritas ou outros locais de culto. Nos momentos antes de adormecer, fazemos o balanço do dia e damos graças pelo que recebemos. Já ao despertar para uma nova jornada, elevamos o pensamento em prece ao Criador, em busca de amparo para os desafios que nos aguardam.

Fora esses momentos, porém, no trabalho diário, nas fábricas, no campo, nos escritórios, nos diversos locais em que labutamos pela conquista do alimento e do conforto do corpo material, deixamos de considerar a realidade extrafísica e imergimos totalmente no drama de cada dia, com sua carga de ansiedades, trabalho e duras provações.

Assim conduzimos nossas existências, como se vivêssemos em dois mundos distintos e que muitas vezes nem ao menos se tangenciam, como se vivêssemos duas vidas independentes, como se fôssemos dois seres estranhos, cada qual alienado da existência mesma do outro.

A Doutrina Espírita, mediante postulados marcados pela racionalidade, impulsiona fortemente seus seguidores a considerar a vida material como mero reflexo, embora indispensável, da vida espiritual, esta sim a realidade perene do espírito divino. Não existem dois seres coexistindo em cada um de nós, pois somos, na verdade, o mesmo ser eterno, manifestando-se em diversos níveis de vibração, atuando sobre os diferentes universos que coexistem no mesmo complexo espaço-tempo.

Desde já alguns anos, diversas escolas de pensamento nas áreas da psicologia e da administração passaram a considerar essa realidade. Como expoente dessas tendências, podemos mencionar a teoria das múltiplas inteligências, que deixou de lado o antigo conceito de uma inteligência única e abrangente, tradicionalmente ligada à capacidade de analisar, pensar de forma abstrata, usar as diversas linguagens, visualizar e compreender.

Bastante difundido entre nós está o conceito da inteligência emocional, que diz respeito à capacidade de autoconhecimento e consciência que o ser humano tem de si mesmo, de empatia com outras pessoas, e de comunicação eficaz de seus pensamentos. Assim, a inteligência emocional seria, em síntese, a capacidade que o ser humano tem para utilizar na plenitude a inteligência mental.

Um dos últimos avanços nessa área foi a “descoberta” da inteligência espiritual, que seria a inteligência fundamental, proporcionando a orientação para as demais inteligências. Ela representaria, assim, o impulso em direção à busca de significado e de conexão com o universo.

Essa visão vem sendo saudada como um grande passo, uma “nova visão no mundo dos negócios”. Para os entusiastas, a admissão dessa realidade representaria uma tendência capaz de mudar alguns pressupostos do nosso modo de vida tradicional, tirando-lhe o foco imediatista e direcionado para o lucro a qualquer custo, destruindo suas hipóteses básicas sobre o ser humano, encarado como sendo basicamente materialista e essencialmente egoísta.

Para os espíritas, a teoria da inteligência espiritual está longe de constituir uma novidade. A codificação kardequiana, ao demonstrar a realidade da vida além-túmulo, explicita a sua preponderância como realidade maior, sobrepondo-se às ilusões da matéria e do corpo físico. Ao deixar clara a natureza evolutiva do universo e de todos os seres, abre a possibilidade de aperfeiçoamento do ser humano e da vida em sociedade. Mais que isso, ela define esse caminho como irreversível e qualifica o ser humano como inexoravelmente destinado ao progresso e à felicidade.

Os princípios espiritistas da Reencarnação e do Carma, alicerçados na fé cristã e na moral evangélica, conferem ao ser encarnado valiosa ferramenta para o progresso espiritual. Aquele que de boa-fé esposa esses princípios está a caminho do alinhamento da existência material com a sua natureza espiritual. Ao aplicá-los, poderão homens e sociedades reduzir a defasagem entre o “homem tecnológico” e o ser espiritual que a ele precede e para sempre subsiste.

A Lei de Causa e Efeito é força ineludível, sempre presente na vida de todo ser humano. Abstraindo-nos, porém, da constante cármica, podemos atuar sobre as variáveis à nossa disposição. Viver segundo os princípios cristãos é, seguramente, receita para saldar os débitos do passado e apressar o caminho para a redenção.

O espírita sincero, seguro da consistência da Doutrina que abraçou e que estuda constantemente, tem consciência da necessidade de progresso em todas as áreas do conhecimento humano. Saúda cada nova descoberta ou aplicação prática de conhecimentos antigos, agora analisados sob nova luz, com a satisfação de constatar a realidade de sua fé raciocinada e a justeza dos enunciados do Codificador, sob a inspiração sábia dos Espíritos superiores.

Dessa maneira, verificamos com alegria o interesse dos teóricos da administração e da psicologia pelo homem espiritual. Essa busca há de trazer-lhes boas novas, nem todas elas restritas ao mundo dos negócios. Se fizermos analogia com a pesquisa geológica realizada no Nordeste Brasileiro há alguns anos e que em vez de petróleo encontrou água, podemos dizer que os novos pesquisadores da inteligência espiritual poderão encontrar algo mais profundo e muito mais importante.

Por ora, ficamos satisfeitos em dizer, sem medo de errar, que o equilíbrio entre as diversas inteligências, aliado à fidelidade aos ideais cristãos e à correspondente prática desses princípios, constituiria, em última análise, o ponto focal da inteligência espiritual. Esse equilíbrio desperta no ser humano a capacidade de encontrar um sentido para a existência, algo que por si só tem o condão de transformar a maneira como vemos e como sentimos tudo que acontece à nossa volta. Tal capacidade, uma vez compreendida e praticada por um número crescente de pessoas, poderá contribuir decisivamente para uma melhoria significativa da qualidade de vida em nossas comunidades e em nosso planeta.

(*) O autor é General de Exército na Reserva

Comentários

  1. Matéria educativa e orientadora concernente à importante mensagem Inteligência Espiritual. Momentos de reflexão sobre nossa peregrinação neste planeta de provas e expiações, a fim de resgatar débitos ancestrais e ao mesmo tempo aproveitarmos para a evolução espiritual. Procuremos assim não retornar sem aproveitarmos os momentos para a evolução. É fato a ser considerado por todos, não importando cada crença, sobre a Inteligência Espiritual. Outrora, sobre o aspecto reencarnação, era assunto aos adeptos da doutrina Espírita. Entretanto, a própria psicologia, em trabalhos que recorrem a fatos desde o nascimento do indivíduo, e não consegue uma explicação para alguns traumas, hoje em dia recorrer em vidas passadas, até identificarem o motivo dos distúrbios do paciente. Sabemos que outras matérias no nível de Inteligência Espiritual virão, esclarecedora como nosso estimado amigo Schons sabe muito bem se expressar. Obrigado pela oportunidade de manifestação. Antonio Carlos- 13/02/2022.

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