Mediunidade: Dom, Missão ou Talento?

 

Décio Luís Schons (*)

Ao longo de nossa jornada, somos às vezes questionados sobre temas de grande importância para o cumprimento das tarefas relacionadas à Doutrina Espírita no contexto da família, do grupo social em que desempenhamos nossos trabalhos profissionais e da sociedade de que somos parte.

Um desses temas recorrentes é a natureza da mediunidade, entendida como a capacidade do ser humano encarnado de atuar como intermediário e estabelecer a comunicação entre os espíritos desencarnados os encarnados.

É importante que, antes de prosseguirmos, seja aqui registrada nossa gratidão a todos aqueles que nos interrogam sobre temas doutrinários, pois é a partir da dúvida, nossa e de nossos amigos, que encontramos o estímulo para o estudo, para a reflexão, para o crescimento, enfim, em todos os significados intangíveis da palavra.

Apesar de tudo que já foi escrito e publicado sobre a natureza da mediunidade, desde os primórdios da Codificação Kardequiana, é natural que surjam dúvidas e debates a respeito. Acreditamos ser de todo interessante que as pessoas se manifestem, pois o debate enriquece o entendimento da Doutrina e estimula o pensamento crítico. O Espiritismo não é, nunca foi e esperamos que nunca venha a ser uma doutrina baseada em dogmas. O momento em que passasse a sê-lo assinalaria também o início da sua decadência naquilo que ele tem de mais precioso: a livre manifestação de opiniões, a incorporação de novas descobertas, além de tudo que enseje a sua evolução como corpo doutrinário.

Do estudo do tema, percebe-se de modo cristalino que a mediunidade não é, por via de regra, uma capacidade adquirida na presente encarnação. Já nascemos com ela, cada um de nós incorporando uma de suas infinitas nuances, desde a mediunidade de incorporação até a vidência, a inspiração, a intuição e assim por diante. Nosso trabalho na presente encarnação é desenvolvê-la pelo estudo, pela meditação, pela prática do bem e da caridade em proveito de nossos irmãos de jornada, encarnados e desencarnados.

O objeto principal dos mencionados questionamentos refere-se exatamente à natureza dessa capacidade. Seria a mediunidade um dom, algo assim como uma bênção divina que recebemos sem qualquer razão aparente? Seria, segundo outro entendimento, uma missão recebida e aceita por nós em momento anterior à presente reencarnação, quando éramos preparados por nossos mentores no mundo espiritual? Ou seria um talento, um produto do nosso desenvolvimento intelectual e moral, conquistado por nós mesmos, o fruto do nosso trabalho perseverante nesta e nas anteriores reencarnações?

Em nosso entendimento, não existe uma resposta simples e terminante para essa questão.

Há aqueles dentre nós que já conquistaram em existências passadas, pelo mérito, as faculdades mediúnicas, podendo delas dispor em sua integralidade, já detendo o discernimento para decidir em que direção atuar.

Outros renascemos na Terra aquinhoados com esse dom sublime, não em virtude de méritos conquistados, mas como oportunidade única de resgatar débitos pesados de forma mais acelerada. Para esses, a mediunidade constitui-se em um empréstimo, à semelhança do que acontece na Parábola dos Talentos (Evangelho Segundo S. Mateus, 25:14-30), em que valores foram confiados pelo senhor aos seus trabalhadores, na expectativa de que eles os multiplicassem com o seu trabalho.

A nosso ver, a mediunidade será sempre um dom divino, uma vez que nada acontece em nossas vidas que não esteja em concordância com a vontade de nosso Pai Celestial.

É preciso que cada um de nós se autoanalise e verifique, em detida introspecção, os predicados que mais afloram em nossa personalidade, para a partir deles decidir sobre a tarefa-chave que iremos assumir. Parece-nos ponto pacífico que o sucesso nessa empreitada será um passo determinante para encontrar um sentido para a nossa existência e para que esta nossa passagem pela Terra seja feliz e plena de realizações. Se recebemos como ferramentas de trabalho a enxada e a picareta, não parece lógico que nos enfronhemos em trabalhos de ourivesaria. Todavia, se mesmo assim decidirmos que ser joalheiro é aquilo que nos compete, a decisão a ser tomada estará a cargo de nosso livre-arbítrio e sob nossa total responsabilidade.

Vemos assim que a mediunidade pode ser encarada sob diversos prismas e enfocada em seus variados aspectos, tão diversificados quanto as nuances da natureza humana: dom, missão, talento, oportunidade de redenção. Seja qual for, porém, a sua origem, a essência da mediunidade é e sempre será a mesma: somos médiuns para melhor servir aos nossos irmãos de caminhada.

Independentemente de sua origem e das causas que determinaram seu afloramento em nossas personalidades, a mediunidade será acima de tudo um convite – o convite do nosso Mestre Jesus para trilharmos o caminho do bem, em estrita obediência à Divina Lei de Justiça, Amor e Caridade. Como é de praxe quando se recebe um convite, podemos aceitá-lo ou não.

Permanecemos na certeza de que, enquanto perseverarmos no atendimento a esse convite, a assistência bondosa de nossos Amigos Espirituais nunca nos há de faltar.

(*) O autor é General de Exército na Reserva

Comentários

  1. O bem, materializado nas ações de amor ao próximo e caridade, são o caminho a seguir rumo ao esclarecimento e evolução.

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    1. Totalmente de acordo. Na verdade, o único caminho.
      Muito obrigado pelo seu comentário.

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