No Aniversário de O Evangelho Segundo o Espiritismo
Décio Luís Schons
Sabemos que o Espiritismo não é propriamente uma religião, e
sim uma Doutrina que incorpora um significativo aspecto religioso.
Na verdade, nossa Doutrina Espírita começou como filosofia,
com a publicação de O Livro dos Espíritos em 1857, prosseguiu como
ciência com a 1ª edição de O Livro dos Médiuns em 1861 e incorporou seu
aspecto religioso com a publicação de O Evangelho Segundo o Espiritismo
em 1864.
Hippolyte Léon Denizard Rivail, conhecido pelo pseudônimo
Allan Kardec, era um professor e cientista e como tal não tinha ideias
preconcebidas. Quando teve notícia dos episódios envolvendo as mesas girantes,
seu impulso foi investigar para denunciar as fraudes que, no seu entendimento,
estavam por trás dos fenômenos. A constatação de que havia, sim, inteligências
atuando em outro plano de manifestação e de que essas inteligências se
comunicavam com as pessoas em nosso plano e transmitiam ensinamentos
pertinentes a um novo campo do conhecimento humano levou o Professor a encarar
com seriedade e determinação a tarefa de codificar tais comunicações, organizá-las
e torná-las inteligíveis.
Por isso, o aspecto científico da Doutrina Espírita é
definido pela metodologia utilizada por Kardec, isto é, o método experimental,
em que milhares de perguntas foram endereçadas a inúmeros médiuns em centenas
de centros espíritas em diversos países. As respostas obtidas só foram tomadas
em consideração a partir de um número considerável de coincidências.
Não foi, portanto, Allan Kardec que deu forma e substância à
Doutrina Espírita – foram os espíritos. Ele nunca se autodenominou nem foi
caracterizado como autor dos livros. A ele coube a tarefa autoimposta de
codificar e divulgar os princípios da Doutrina Espírita e por isso ele é
conhecido como o Codificador do Espiritismo.
O Livro dos Espíritos constituiu-se de imediato em um
sucesso de livraria. As pessoas cultas e bem-intencionadas desacreditavam das doutrinas
tradicionais e ansiavam por explicações que fizessem sentido sobre os problemas
do ser, do destino e da dor. Esse livro constitui a base sólida para o aspecto
filosófico da Doutrina Espírita, orientando respostas às perguntas sobre as
causas primeiras e detalhando a posição do ser humano num universo inteiramente
sob a égide divina, em que nada acontece por acaso.
O Livro dos Médiuns, publicado em sequência, constitui a
base para o aspecto científico da Doutrina, ao responder às perguntas sobre
como os fenômenos mediúnicos acontecem. O relacionamento entre seres humanos
encarnados e desencarnados é, preponderantemente, o objeto deste segundo livro
ditado pelos espíritos e organizado por Allan Kardec.
E então, 158 anos atrás, no dia 15 de abril de 1864, viria à
luz O Evangelho Segundo o Espiritismo, cujo título original era “Imitação do
Evangelho”. Já na introdução do livro, Kardec, atendendo à orientação dos Guias
Espirituais, deixa claro que só serão abordados os tópicos relevantes para a
conduta moral dos seres humanos e deixados de lado os aspectos polêmicos e de
cuja discussão já haviam resultado tantos males para a humanidade. Toda a atenção
é, portanto, dedicada à aplicação dos princípios da Ética Cristã e à análise de
questões de ordem religiosa, aí incluídas a prece e a caridade, reforçando a
noção de que ali se encontra o roteiro para a felicidade dos seres humanos.
Obviamente, não era objetivo de Kardec, nem dos espíritos
orientadores da sua obra, redigir uma “Bíblia espírita”. Também não tinham em
mente reinterpretar os ensinamentos bíblicos à luz da Doutrina nascente. Ao
analisar cada um desses ensinamentos éticos, o objetivo proposto era unicamente
o de aclará-los e, assim fazendo, demonstrar sua absoluta concordância com os
princípios que haviam sido trazidos recentemente a público pela Doutrina
Espírita.
Percebemos assim a importância da data que mencionamos: o aniversário
de publicação de O Evangelho Segundo o Espiritismo. A partir dali, a Doutrina
Espírita atingia sua completude, passando a apoiar-se sobre os três pilares que
a caracterizariam de forma permanente: o científico, o filosófico e o
religioso. Os dois livros que viriam a completar o Pentateuco Kardequiano (O
Céu e o Inferno, em 1865, e A Gênese, em 1868) foram dedicados a aprofundar
esses três aspectos.
Muito já se tem escrito sobre a história da Doutrina
Espírita e sobre a importância da obra de Allan Kardec. Ao abordar de forma tão
ligeira esse tema complexo, move-nos o objetivo de despertar naqueles que dão
os primeiros passos na trilha espírita a curiosidade e o gosto pelo
conhecimento de uma doutrina que abarca todos os campos do conhecer, do sentir
e do viver humano.
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ResponderExcluirCaro irmão. Gratidão por compartilhar importantes informações e reflexões sobre a Doutrina Espírita. Um fraterno abraço.
ResponderExcluirObrigado, caro Amigo, pela gentileza de seu comentário.
ExcluirMuito complexo, interessante,mas para entendermos,temos que estudar muito.Ótimo texto,primo.Abraço fraterno.
ResponderExcluirExcelente!
ResponderExcluirBastante complexo! A cada dia que passa concluo que nada sabemos sobre os mistérios da fé. Obrigado por compartilhar!
ResponderExcluirObrigado, Prado. Um abraço.
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